A doença
falciforme é uma das doenças genéticas de maior prevalência no mundo (Wang & Lukens, 1999). Na África, sua
prevalência se deu num processo de seleção genética que protegeu estas
populações da malária, doença epidêmica em muitas regiões daquele continente.
Sua introdução
no Brasil se deu em regiões específicas durante a nossa colonização. Sua distribuição
heterogênea na população brasileira deve-se a esse fato histórico, sobretudo
aos processos de miscigenação racial que ocorreram e ocorrem com intensidade
variáveis nas diversas regiões do país (Naoum, 2000). Num estudo realizado com
101 mil amostras de sangue de 65 cidades de todas as regiões brasileiras a
prevalência era maior na região norte (4,39%), nordeste (4,05%), centro-oeste
(3,11%), sudeste e sul (ambas com 1,87%). Analisando 15 estados brasileiros, a
Bahia foi o que apresentou a maior prevalência do gene da doença (5,48%),
seguido de Alagoas (4,83%), Piauí (4,77%) e Pará (4,40%) (Ibidem). Os técnicos que têm trabalhado com essa doença estimam a
existência de dois a dez milhões de portadores do traço falcêmico e 8 mil a 50
mil doentes, segundo cálculos elaborados com base em probabilidades
estatísticas (MS, 1996b).
No Brasil, vários trabalhos científicos
realizados, por pesquisadores tanto independentes como ligados às
Universidades, têm ressaltado a elevada prevalência da doença, os vários aspectos
clínicos, as dificuldades de diagnóstico e tratamento, e têm, mais
recentemente, revelado as características genéticas predominantes da população
afro-brasileira, que têm nítida associação com a gravidade clínica.
A Doença
falciforme é a doença hereditária com traços étnico-raciais mais comum, estando
contida no âmbito da Saúde da População Negra que tem tido uma abordagem
específica de saúde pública a partir da interação de quatro setores
fundamentais: organizações da sociedade civil, principalmente do movimento
negro e associações de portadores e familiares; da pesquisa acadêmica; os
gestores da saúde dos três níveis de Governo e as agências de cooperação
internacional. A última década reflete os resultados desta interação através da
implantação de um conjunto de ações no quadro de políticas públicas em saúde,
tais como:
- 1996: Criação do Grupo de Trabalho
Interministerial que teve o objetivo de elaborar propostas de políticas
para valorização da população negra;
- 1996: Realização pelo GTI da Mesa redonda “Saúde da
População Negra” que teve como resultado a criação do PAF – Programa de Doença
Falciforme e a constatação da necessidade de considerar a Doença
Falciforme como um problema de saúde pública;
- 2001: Publicação da Portaria 822/MS que
implanta a triagem neonatal com a inclusão do diagnóstico para Doença
falciforme;
- 2003: 12ª Conferência de Saúde – deliberação da inclusão
do recorte racial na operacionalização na Política Nacional de Saúde;
- 2003: Assinatura do Termo de Compromisso
entre o Ministério da Saúde e a Secretária de Especial de Política de
Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR;
- 2003: Transferência da Coordenação de Sangue
da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária para SAS – Secretaria
de Atenção à Saúde;
- 2004: Realização do Seminário Nacional de Saúde da
População Negra que teve como um dos resultados a criação do Comitê
Técnico de Saúde da População Negra.
- 2004: Implementação da Política Nacional do
Sangue e Hemoderivados que articula as ações do Programa Nacional de
Triagem Neonatal - PNTN com a rede de assistência.
Os resultados de pesquisas e discussões vêm
apontando para a necessidade da implantação de um Programa de atenção aos portadores e familiares de doenças
falciformes que considere a diversidade étnica da população e contribua para promoção da
equidade na atenção à saúde.
II.
SITUAÇÃO DA DOENÇA FALCIFORME EM SALVADOR
Salvador é a
segunda maior cidade de população negra no mundo, depois de Lagos na Nigéria,
com cerca de 83% da população descendente desta etnia, necessitando da
implantação de uma política pública que preveja campanhas educativas e ações de
prevenção, detecção, tratamento e cobertura sócio-econômica das doenças
falciformes, enfermidades de maior incidência nesta população.
A Doença
Falciforme é a desordem genética mais freqüente no Brasil, com alta taxa de
morbi-mortalidade, principalmente na primeira infância, estando o gene da
Hemoglobina S (HbS) presente em 7 a 10% da população baiana (FioCruz,2001).
A sintomatologia está muito relacionada ao tipo de
haplótipo que o paciente possui, sendo que na Bahia os haplótipos predominantes
são o CAR e BENIN, que são os relacionados a maiores complicações. Todas as
complicações estão associadas aos quadros de falcização e conseqüentes oclusões
vasculares, que podem levar a complicações envolvendo sítios diversos como:
olhos, sistema osteo-articular, pele, sistema nervoso central, cardio-pulmonar,
urogenital, gastrointestinal.
O diagnóstico precoce e o tratamento
imediato e adequado podem minorar os problemas e melhorar a qualidade de
vida do doente. Sem subestimar estas ações específicas de prevenção secundária,
o nível sócio-econômico e cultural são determinantes cruciais na evolução
clínica da doença, alterando a morbidade e a sobrevida dos afetados (Álvares Filho
et al., 1995).
Na população de Salvador, a doença
falciforme é atualmente uma enfermidade que, embora ainda seja de prevalência
elevada nos afro-descendentes, atinge a praticamente todas as etnias/raça.
A APAE/Salvador realiza a
triagem neonatal para hemoglobinopatias desde o ano 2000. Em 06 de junho de
2001 foi publicada a Portaria GM/MS n° 822 que instituiu o Programa Nacional de
Triagem para Doenças Falciformes e Outras
Hemoglobinopatias e nesta época o Estado da Bahia foi credenciado na fase II, tendo em Salvador uma cobertura atual de 87%.
Hemoglobinopatias e nesta época o Estado da Bahia foi credenciado na fase II, tendo em Salvador uma cobertura atual de 87%.
Com esta portaria o município de
Salvador, passa a conhecer o número de pacientes que nascem com esta patologia
que é de 1:650 nascidos vivos. Com a triagem neonatal, entre 2000 e 2004, foram
identificadas cerca de 180 crianças portadoras de doenças falciformes. O mais
agravante é a inexistência de uma política de assistência específica para os
portadores no município, uma vez que a proposta de intervenção a esta
problemática pela administração municipal anterior, visava apenas à triagem
populacional de hemoglobinas mutantes sem o devido prosseguimento à atenção ao
portador desta patologia.
O diagnóstico precoce tem, pois, um papel
central na abordagem dessas doenças, uma vez que podem ser tratadas
adequadamente e as complicações evitadas ou reduzidas. Por se tratar de doenças
crônicas e hereditárias, causam grande impacto sobre toda a família, que deve
ser o foco da atenção. A abordagem adequada depende da colaboração de equipes
multiprofissionais treinadas em centros de referência, da participação da
família e da comunidade. Portanto um Programa voltado para as doenças
falciformes deve incluir um forte componente de educação da comunidade e dos
profissionais de saúde.
O município apresenta ainda, os seguintes problemas com relação à
Doença Falciforme: falta de conhecimento da população e da área de saúde sobre
a referida patologia; falta de medicações básicas e essenciais para o
tratamento nos postos de saúde; dificuldade em realizar os exames necessários
para diagnóstico e acompanhamento e falta de sistema de informação e
monitoramento da ocorrência da doença.
Através do Banco de dados do HEMOBA foi possível a elaboração da
distribuição da Doença Falciforme por Distrito Sanitário de ocorrência que se
apresenta da seguinte forma:
NÚMERO E COEFICIENTE DE INCIDÊNCIA DA DOENÇA FALCIFORME
POR DISTRITO SANITÁRIO - SALVADOR/2002
Fonte:
HEMOBA/SMS, 2002
Com base nesses dados podemos observar que a ocorrência de
casos é maior no Distrito Sanitário do Subúrbio
Ferroviário, seguido de Cabula/Beiru,
Barra/Rio Vermelho e São Caetano/Valéria, mas a incidência é
elavada também no Distrito sanitário de Brotas.
Sendo assim, a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador apresenta o Programa
de Atenção aos Portadores de Doenças Falciformes com ações que serão
desenvolvidas através de uma intervenção organizada, visando o diagnóstico
precoce da doença, atenção integral e orientação às famílias em todo o
município, estando de acordo com o Plano Nacional de Saúde.
Entende-se como ações de prevenção da Doença
falciforme, a promoção do conhecimento da doença, a promoção do acesso aos
serviços de diagnóstico e tratamento, bem como as ações educativas dirigidas
aos profissionais de saúde e à população.
Esta iniciativa é parte de um conjunto de
políticas públicas voltadas para a valorização da população negra de Salvador,
acatando um compromisso do Prefeito João Henrique Carneiro, que
avalia a cidade de Salvador (por possuir uma população majoritariamente negra),
como a que deve tomar a dianteira no processo de elaboração de políticas
públicas sensíveis às questões étnicas, pretendendo através deste programa dar
prosseguimento a ação iniciada com a criação do Grupo de Trabalho de Saúde
da População Negra que tem como uma das atribuições propiciar de forma
articulada a implantação deste programa que se constitui numa construção
coletiva da saúde com igualdade social e racial.
III.
OBJETIVO GERAL
Promover e implementar ações que permitam:
ü
Reduzir
a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida das pessoas com Doença
Falciforme;
ü
Disseminar
informações relativas à doença.
Deve ser incluído os portadores de anemia falcifome nas cotas para deficientes. Tratar desiguais os desiguais na medida de suas desigualdades, portanto os portadores de anemia falciforme se enquadra perfeitamente na politica de cotas para deficientes. Dessa forma se incluirá grande parcela de falciformes a um emprego digno que respeite suas limitações e melhorara a qualidade de vida.
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